REGGAE ROOTS

Considerado por muitos como a era de ouro da música jamaicana, o período correspondente ao Roots Reggae (1968-1985), marcou a diversificação e a expansão do ritmo de Jah para novas fronteiras musicais e geográficas.
Hoje em dia, depois da popularização mundial do reggae, este termo passou a ser utilizado também para designar toda a produção musical da Jamaica nos últimos quarenta anos, o que ressalta a unidade musical do gênero ao longo deste tempo. Contudo, o reggae propriamente dito foi batizado em 1968, com a canção “Do the Reggay” (assim mesmo, com a grafia errada), de Toots Hibberts e os Maytals.
Atualmente, esse período inicial do ritmo de Jah é chamado de roots reggae (reggae de raiz) ou simplesmente roots. Embora hoje a maioria dos regueiros chame de roots qualquer reggae que não seja baseado em ritmos eletrônicos, essa classificação do estilo como pertencente a uma época específica ainda é a mais aceita e usada nas principais fontes de informação sobre o tema.
Existem muitas versões para a origem do nome reggae, entretanto a mais aceita é a que este seria uma adaptação da palavra “ragged”, que indica uma roupa suja e rasgada ou a pessoa que a usa. O nome é uma indicação clara das origens do reggae, que nasceu nos barracões de zinco das favelas jamaicanas, em um período de intensa experimentação musical, absorvendo as contribuições do ska e do rocksteady e canalizando tudo em um novo gênero musical.

Tudo isso aconteceu também porque uma nova geração de músicos estava surgindo no final da década de 1960 e início da de 1970. Eram artistas como Aston “Familyman” Barret, Leroy “Horsemouth” Wallace, Earl “Chinna” Smith, Max Romeo, entre outros, que buscaram marcar presença alterando a interpretação do ritmo. O que eles fizeram foi dar mais importância à bateria e à guitarra na mixagem, elaborar linhas de baixo mais pulsantes e menos melódicas e cantar de forma mais áspera.
Mais uma vez a situação econômica, social e cultural da ilha teve influência marcante, pois a principal mudança ocorreu nas letras, que estavam mais impacientes, menos inocentes e mais contundentes que as do rocksteady.
As expectativas por uma vida melhor, alimentadas no calor da independência da Jamaica, não estavam se cumprindo, o êxodo rural se intensificava, o desemprego aumentava e as condições de trabalho não melhoravam. Os artistas se tornavam porta-vozes da desilusão e da raiva do povo e influíam no direcionamento destes sentimentos. O movimento religioso conhecido como rastafari também alcançou grande repercussão entre a população carente e os artistas do reggae. O forte comprometimento com a denúncia e com a transformação social, juntamente com a mensagem religiosa, se tornaram os fundamentos do reggae. Muitos artistas apareceram nessa época e contribuíram para ampliar a força do ritmo.
Em termos musicais, as primeiras canções que anunciaram a nova tendência foram clássicos como “People Funny Boy”, de Lee Perry, “Nanny Goat”, de Larry Marshall e “No More Heartaches”, dos Beltones, que aceleravam um pouco a batida do rocksteady sem chegar ao andamento frenético do ska. A canção de Perry usava efeitos sonoros como choro de bebê e garrafas se quebrando, deixando claro que os técnicos de som e produtores iriam interferir mais no resultado final do que antes. Esta tendência acabou se confirmando e desembocou no Dub.

Muitos artistas estavam chegando do campo e traziam para a cidade uma sensibilidade diferente e uma carga cultural local mais intensa. Alguns vinham de comunidades com forte influência da cultura rural, que ainda ouviam bastante o mento, diretamente ligado à matriz africana. Cantores como Eric Donaldson e Justin Hinds faziam parte desta leva, com fortes laços com o interior da ilha. Ao mesmo tempo, estava em gestação entre outros músicos e produtores um novo estilo, mais cosmopolita, que iria fazer com que o reggae alcançasse finalmente o público fora da Jamaica.

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